segunda-feira, 10 de agosto de 2009

NSU

O meu primeiro "grande" acidente rodoviário deu-se no meu bairro. Para além do carocha preto, o meu pai possuía uma motorizada a dois tempos, laranja, que todos os candeungues lá do bairro "invejavam" porque eu a tripulava e não tinha permissão, da mãe claro, de a emprestar fosse a quem fosse.
Claro que a motorizada, a lindissima NSU (que mais tarde todos lhe alcunharam de Não Se Usa- inveja digo eu), servia sobretudo para os recados da kota Maria, senhora minha mãe. Era para ir às compras ao Armazém, ir buscar fruta ao mercado do Canhe, porque ao Municipal tinha muito trânsito e o puto podia-se ficar debaixo de qualquer coisa, enfim, dar umas voltas ali e só pelo Bairro. Era assim até ao dia que eu resolvi acelerar um pouco mais e quebrar o meu "recolher obrigatório" e sair mesmo sem salva conduto.
Mas voltando ao acidente. A casa amarela tinha a cozinha e a despensa fora do edifício central. Entrava-se em casa por um portão enorme de ferro, havia uma rampa que batia na parede da cozinha onde havia uma janela e a rampa. a descer bastante diga-se desde já, dava para uma garagem de madeira feita para guardar o Fusca, ao lado do forno de lenha que servia para aquecer a água. Fui convidado a ir ao mercado local, fazer qualquer coisa que demorava pouco tempo, e autorizado a deslocar-me motorizado. Peguei na NSU, cabelos ao vento, e o mundo foi todo meu. Não, as garinas nada diziam, não acenavam, não havia poeira poeirada no trás da NSU, só eu e o Mundo. Certo que depois de fazer o recado, cá o mano se perdeu no Bairro e nas horas. Quando voltei à realidade já dona Maria devia ferver dos azeites e ansiar pela ginástica que fazia às suas mãos e, por vezes, aos seus chinelos nas mádegas cá do Zé. Vai daí a NSU teve que dar o litro, acelarando na estrada e no batimento do coração do puto que já não tinha punho anatómico que resistisse de tanto o forçar para que o punho do acelerador atingisse o máximo.
Grande curva que fiz para entrar no portão, sempre a fundo, a rampa parecia reta, a parede estava lá, grande estoiro, parecia terramoto, NSU feita num oito escaqueirada contra a parede, pelo menos a roda dianteira, cadengue pelos ares como nos filmes do Ferrovia, a janela ali mesmo para ele entrar em vôo picado, passar por cima das panelas e fogão, e estatelar-se em cima da mesa de madeira que havia na cozinha. Dona Maria corria quintal fora, gritando "estamos a ser atacados pelos turras"
Mas passado o susto do início da luta armada lá no meu bairro, verificando que o filho se levantara e nem um ai dissera, a dona aconchegou os chinelos, e de que maneira, aos calções do "brincalhão do quintal". Mas naquele dia o meu bairro não ouviu nem um ai de choro, pelo menos saído da minha boca. Certo que o kota depois de acentar a poeira, verificar os estragos, pegou na lindissima NSU e foi tratá-la nas oficinas do CFB. Só muito mais tarde é que voltei a sentir a sensação de como se conduzia esta magnífica motorizada, mesmo que para a travar tivesse que andar com os pedais para trás.

1 comentário:

  1. Conheça:
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