quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CARRINHO DE ROLAMENTOS

Os putos lá do bairro sempre quiseram ser pilotos de qualquer coisa. Fazíamos pistas na varanda do Casimiro e do Quim com o giz que trazíamos lá da escola. Desenhávamos os circuitos mais intensos que descobríamos nas nossas leituras colectivas dos jornais desportivos (ou seria só do jornal desportivo A Bola) que devorávamos com uma fúria de quem quería saber coisas. Depois era só adaptarmos os Corgy ou os Dinky Toys, colocarmos as borrachas dos tubos de tinta da china nos rodados traseiros (para maior estabilidade em pista) e aí estavam os bólides preparados para grandes corridas. Eu tinha um "charuto" verde, fórmula 1, de que não recordo a marca, e um Aston Martin do James Bond, que ganharam algumas provas. Aquilo tinha regras, pontuações, enfim enquanto acelarávamos respirávamos o ar puro do nosso bairro. Nada de salas fechadas, play estações ou mesmo computas do tio Bill para acelerarmos nas teclas.
Bem, mas não era só nas pistas de cimento que acelarávamos e onde sonhávamos ser como o nosso fã, o Gilles Vileneuve. Até tinhamos clube de fãs do Gilles e que chorou e de que maneira o seu desaparecimento. Galopávamos nos cabos das vassouras das mamãs indo que nem cavalos loucos pelos caminhos de terra do nosso bairro. Cruzávamos, a velocidades mil as ruas com os arcos dos barris que os kotas nos arranjavam nas oficinas do CFB. Enfim, sonhos de candengues que desfazíamos nas ruas da nossa cidade enquanto assistíamos ao acelerar dos bê émes e dos alfas durante 6 horas seguidas. Pópilas!
Desgostávamos, isso sim, não poder acelerar nos carrinhos de rolamentos que construíamos com ternura e amor. O nosso bairro era plano, não tinha subidas ou descidas que nos fizesse acelarar no alcatrão e travar até rasgar as sapatilhas para fazermos curvas mais pronunciadas. Lá se íam os sonhos que alimentávamos na varanda da casa amarela, segunda a contar do triângulo, do nosso bairro.

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