quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TARZAN, NÂO!

O que é que nós líamos lá no meu bairro? Todas as horas livres de estudo eram aproveitadas para lermos sozinhos ou em grupo tudo o que nos despertava curiosidade. Quando o fazíamos sozinhos tentávamos depois repartir a informação, ou o material de leitura, para que todos estivessemos em pé de igualdade. Havia um dia, penso que 2ª ou 3ª feira, em que a leitura era colectiva e com discussão em grupo. A Bola era devorada letra a letra, palavra por palavra, página por página. Assim os jogos eram "visionados" como se estivessemos lá e os lances discutidos em visão lenta para vermos tudo aquilo que no Domingo tínhamos ouvido nos transistores. Bons ensinamentos tiramos dos escritos de Cândido Oliveira, Carlos Pinhão, Homero Serpa, entre outros. Recordo um título fantástico, sobre um jogo do nosso Benfica, em que o lápis da censura salazarenta não consegui apagar: "Noite vermelha em Moscovo". Bons tempos em que o jornal era semanário.



Não era sobre os leituras futebolísticas que estava para aqui a tentar escrever. Era sobre as nossas leituras de criança que nos levava aos sonhos das aventuras, das nossas ambições de sermos também heróis. Cada um tinha os seus heróis e tentava defendê-lo com unhas e dentes. Recordo os livrinhos aos quadrados do Major Alvega, Zorro, Cisco Kid, Capitão América, Mandrake, Kansas Kid e até o Hulk, além de outros incluindo os do Walt Disney. Eramos todos fãs do Pluto.
Não atinávamos muito com o Tarzan, depois de reunido o conselho dos putos do bairro. Este ficou de fora porque nunca percebemos porque é que um branco, mesmo caído em África vindo do espaço, criado pelos macacos, nunca tinha adquirido a cor e os hábitos de quem era maioritário no nosso Continente. Até a Jane tinha sido lavada em OMO, que era aquele detergente que lavava mais branco. Não, não nos enganavam pois até os nossos ancestrais vindos da Europa nas cascas de nozes, como dizia o nosso professor de História, ficavam mais escuros e as suas Janes, muitas delas, eram africanas e por isso é que muitos dos nossos amigos eram mestiços. Não, Tarzan não fez parte dos nossos heróis e muito menos dos nossos sonhos.

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