domingo, 29 de agosto de 2010

CANA DE AÇUCAR

Aiué, você nem pensa como nós aguardávamos os dias em que os mais velhos nos traziam as canas. Era mesmo um dia de muita sorte. Os putos reuniam-se ali no quintal de um de nós, íamos lhe buscar a catana que tínhamos escondido com que descascávamos a cana, e zás! O verde duro da casca saltava como gafanhoto no capim, aquele miolo branquinho a escorrer água e açúcar ali a gulosar para nós e a saliva a formar-se em quantidades enormes para conseguirmos chupar a cana de açúcar. Dentada após dentada a cana ia-se sorvendo até ficar tudo reduzido a palha que depois deitávamos fora como viamos fazer aos outros candengues que por vezes matavam a fome e o desejo da ilusão de comida.
Aquele mambo de que o açúcar fazia mal aos dentes era só para enganar pois sempre que havia cana os do bairro faziam grandes pecados ao devorarem longos paus. O outro mambo era que não deviamos imitar nem fazer como os putos dos bairros pobres mas a malta não ligava e curtíamos a máxima que era "chupa que é cana doce". Se havia pecado da gula lá no bairro esse era nos dias em que chupávamos a cana.

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