Aiué, você nem pensa como nós aguardávamos os dias em que os mais velhos nos traziam as canas. Era mesmo um dia de muita sorte. Os putos reuniam-se ali no quintal de um de nós, íamos lhe buscar a catana que tínhamos escondido com que descascávamos a cana, e zás! O verde duro da casca saltava como gafanhoto no capim, aquele miolo branquinho a escorrer água e açúcar ali a gulosar para nós e a saliva a formar-se em quantidades enormes para conseguirmos chupar a cana de açúcar. Dentada após dentada a cana ia-se sorvendo até ficar tudo reduzido a palha que depois deitávamos fora como viamos fazer aos outros candengues que por vezes matavam a fome e o desejo da ilusão de comida.
Aquele mambo de que o açúcar fazia mal aos dentes era só para enganar pois sempre que havia cana os do bairro faziam grandes pecados ao devorarem longos paus. O outro mambo era que não deviamos imitar nem fazer como os putos dos bairros pobres mas a malta não ligava e curtíamos a máxima que era "chupa que é cana doce". Se havia pecado da gula lá no bairro esse era nos dias em que chupávamos a cana.
Sem comentários:
Enviar um comentário