sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A KINGA

Como é que vamos falar sobre o Natal no Huambo se não havia mesmo neve, nem Pai Natal, nem pinheiros, nem mesmo brinquedos em muitas das casas lá do bairro. Sim, havia a afesta do Ferrovia para os filhos dos funcionários do CFB onde era mais uma festa. Mas isso são outras estórias para contar. O que é mesmo verdade é que nessa época bastava só mesmo um brinquedo para os olhos sorrirem e todos ficarem contentes. Era bom, não no 25 do doze mas no dia a seguir pois todos juntávamos o que tinha sido dado e brincávamos até ser noite.
Nesse Natal o Mané recebeu uma kinga, vermelha, linda de morrer e foi o encantamento total do bairro. Quantos de nós sabia pedalar naquele monstro, roda 26? Penso que ninguém. A partir daquela data, a vermelha, a melhor kinga do Huambo, serviu para muitos de nós aprender a pedalar nas picadas dos nossos sonhos, percorrer o asfalto e o pó dos bairros vizinhos, sabermos que existia mais mundo para além do nosso e ganharmos o gosto de pedalar até as pernas doerem. São João, Benfica, Comércio foram alguns dos bairros que fomos descobrindo como candengues das aventuras. Havia sempre tempo para cada um de nós dar uma volta. Começamos a aprender com a kinga, que era vermelha, a palavra solidariedade que perdurou para sempre.
Pena foi que o João Manuel da Conceição Barroso, o Mané para nós, tivesse deixado o nosso Huambo muito cedo, mesmo antes de Angola ser Angola.

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