Então vou-te mesmo contar as minhas fugas, sim fugas porque menino branco não podia ir nesse local, ao mercado do Canhe. Nós os putos do bairro passávamos por ali quando íamos para o Ferrovia, mas passávamos no alcatrão bem longe do buruburinho do mercado, das cores, dos cheiros, das conversas, do povo, dos angolanos. Mais velhos começamos a nos desviar mesmo das regras estabelecidas e lá íamos nós entrar na confusão que amávamos. Como era bonito estar ali a ver tudo o que de belo tinha aquela gente e aquele mercado. Bem melhor que o Vicente Ferreira que nem sabíamos quem era o madieu.
Me lembro que não podíamos chegar junto do quintal do padre da igreja local. Nos disseram, boato? verdade?, que o padre tinha dois cães, pastores alemães claro, que estavam treinados a morder os negros, que eram ladrões e os amigos brancos dos pretos, que também eram ladrões e terroristas! Nem chegávamos por perto e aqui comecei a pensar que os servos de Deus não eram todos iguais e que no meu Huambo também havia locais proibidos para quem amava mesmo ele.
Sem comentários:
Enviar um comentário