sábado, 16 de outubro de 2010

CANHE

Yeah, tou aqui sem saber bem como vou hoje mesmo escrever sobre o meu bairro. Me esqueci de muitas estórias que ali vivi. Talvez cansaço, talvez mesmo só a falta de memória que começa. Mas as lembranças do meu Huambo faz-me sempre bem à mona e começo já, agora mesmo, a me recordar de bué de coisas boas que me aconteceram.
Então vou-te mesmo contar as minhas fugas, sim fugas porque menino branco não podia ir nesse local, ao mercado do Canhe. Nós os putos do bairro passávamos por ali quando íamos para o Ferrovia, mas passávamos no alcatrão bem longe do buruburinho do mercado, das cores, dos cheiros, das conversas, do povo, dos angolanos. Mais velhos começamos a nos desviar mesmo das regras estabelecidas e lá íamos nós entrar na confusão que amávamos. Como era bonito estar ali a ver tudo o que de belo tinha aquela gente e aquele mercado. Bem melhor que o Vicente Ferreira que nem sabíamos quem era o madieu.
Me lembro que não podíamos chegar junto do quintal do padre da igreja local. Nos disseram, boato? verdade?, que o padre tinha dois cães, pastores alemães claro, que estavam treinados a morder os negros, que eram ladrões e os amigos brancos dos pretos, que também eram ladrões e terroristas! Nem chegávamos por perto e aqui comecei a pensar que os servos de Deus não eram todos iguais e que no meu Huambo também havia locais proibidos para quem amava mesmo ele.

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