Os putos lá do bairro, pelo menos os de cor de pele mais clara, tinham uma maneira interessante de se "fardarem" para irem para a escola. Além da roupa habitual havia sempre uma bata branca bordada com o nome de quem a usava e o nome da escola, bata que era utilizada todos os dias e que lavada com o célebre detergente OMO lhe dava um cheirinho fresco de que todos gostávamos. A bata tapava muitas riquezas e muitas misérias mas colocava-nos a todos no mesmo chão e no mesmo país, em igualdade. Além da bata havia uma farda verde e castanha com um cinto que possuía na fivela um S enorme, usada para algumas ocasiões e que servia para um regime se identificar. Pobre regime que identificava os seus cidadãos mais jovens com este tipo de farda completamente fora de moda!
A bata servia para todos nós nos sentirmos iguais sem diferenciação pela maneira como nos vestíamos. Mas para nós rapazes havia uma peça do nosso vestuário, que usávamos nas aulas de ginástica, que faz parte do nosso recordatório da vida e que usávamos com uma alegria sem paralelo. Falo dos ténis Sanjo, brancos, de uma elasticidade ímpar, confortáveis e que davam para toda a prática física dos nossos pés. Desde o trampolim, movimentos no solo, salto de cavalo, futebol, andebol, vólei, as Sanjo para tudo serviam e para tudo eram utilizados, tratando muito bem os pés de quem as calçava.
No futebol muitos de nós usávamos os ténis tentando não os estragar e sujar muito por causa das reprimendas que a seguir tinhamos que ouvir. Mas o impressionante era que nesses mesmos jogos as Sanjo eram dribladas, com umas reviangas do outro mundo, por pés descalços, pretos por cima brancos por baixo, dos nossos amigos do bairro e de outros bairros que até pelos sapatos que usavam pareciam ser angolanos de outro país. Desigualdades de quem mandava e de quem gostava de mandar vestir fardas verdes e castanhas com o tal S na fivela dos cintos e que estava fora de moda. Os ténis Sanjo sempre ficaram no nosso coração, pois depois de algum uso serviam para calçar os pés descalços do nosso bairro, enquanto as outras fardas muito cedo nos recusávamos a vestir pois serviam para manter muitos angolanos descalços.
Exmos(as). Srs(as).
ResponderEliminarO Museu da Chapelaria em S. João da Madeira, local original onde eram produzidas as sapatilhas Sanjo, está a realizar uma exposição sobre as mesmas.
Desta forma, gostaria de saber se as sapatilhas que aparece na fotografia no seu site/blogue é de sua propriedade e, se teria disponibilidade para ceder esta imagem para uso na referida exposição, com a devida referência de propriedade.
Aproveito desde já para solicitar qualquer informação que possa ter sobre estas sapatilhas.
Caso seja possuidor de umas sapatilhas Sanjo ou conheça alguém que possua umas e que sejam das que foram fabricadas em S. João da Madeira entre a década de 60 e 80, agradeço o contacto.
Caso aceite colaborar neste projecto, peço-lhe que nos envie um e-mail a confirmar a cedência da imagem para uso nesta exposição.
Estaremos desde já ao inteiro dispor para qualquer esclarecimento através deste e-mail ou para o 256 201 680.
Os meus cumprimentos,
Alexandra Alves
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Museu da Chapelaria
Rua Oliveira Júnior, 501
3700 S. João da Madeira
T. +351 256 201 680
F. +351 256 201 689
http://museudachapelaria.blogspot.com