sexta-feira, 24 de julho de 2009

A CHUVA DO MEU BAIRRO

A felicidade dos kandeungues do meu bairro estava na quantidade de chuva que caía e não naquilo que não existia. Oh!, e se no meu bairro caía chuva! Miudinha por vezes e muitas outras vezes aquelas torrentes tropicais que mais parecia rotura de conduta e que, sonhávamos, o céu desabava em lágrimas sobre nós. Havia sempre motivo para comemorarmos a chegada da chuva. Quem não apreciava muito essa nossa felicidade eram as mamãs que tinham trabalho a dobrar no tanque de lavar roupa. Lembro-me bem de uma dessas chuvadas. Estava no campo do Ferrovia e o meu clube do coração, os Kurikutelas, jogavam com o Benfica de Luanda. Os da capital pensavam que já tinham visto tudo, incluindo a piscina do Ferrovia e que ficava num dos topos do relvado, e que chuva daquelas só lá na Ilha deles. Sei que até nesse dia o comboio apitou roufenho, o Milo e o Raul Indipwo cantaram Kurikutetelas ensopados, e nós os do nosso bairro estávamos enxarcados até ao mais íntimo dos nossos corpos, os ossos. O relvado, em água, superava a piscina ali do lado, os madieu da Lua entraram de fato e gravata e quando o senhor de preto ainda teve ar para ultrapassar a água que lhe escorría das fronhas até ao (a)pito e soprou no dito cujo o resultado estava em 10-2 para os ferroviários. A partir daí os nossos jogos, lá no bairro, mudavam aos 5 e acabavam aos 10. Por vezes noite dentro e com reprimenda dos mais velhos.

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