Yes! E veio-me à memória imagens da Kambu, o café onde os madiês lá do meu bairro se encontravam ao fim da tarde, não de todas, antes de irmos jogar snooker. Deixa-me dizer-vos que a Kambu era uma café tipicamente colonial, ali ao lado do cinema Ruacaná e da Nova York, onde só entravam os que tinham pele clara mas onde nós gostávamos de ir pois as natas eram deliciosas e onde sempre aprendíamos alguma coisa com o Tau-Tau. Um dia resolvemos que nos fizesse companhia um colega do Norton de Matos, negro. Chegados lá notamos que havia uma certa relutância em que alguém viesse nos servir como sempre. Um pouco contrariado um empregado chegou à nossa mesa e perguntou o que desejávamos. Cada um pediu o seu pastel de nata e a coca cola (sim nós já bebíamos água suja do imperialismo mesmo antes do vinte e cinco do quatro) e o Fernando pediu uma Real de maçã (sumo de maça da Canadry Dry). Como o empregado estava a fazer um frete, já estávamos há bué à espera, os nervos estavam à flor da pele de todas as cores. Sua excelência o empregado resolveu então, em tom de chico esperto, perguntar ao "intruso" se ele conhecia mais alguma Real que não fosse de maçã. Resposta imediata: "Conheço sim, a real puta que o pariu!" A partir daqui parecia filme de cowboys e era só pancadaria e mesas no chão. Escusado será dizer que muitos terão dito que por estas e por outras os pretos não entravam neste café.
A partir dessa data ficamos mais amigos do Fernando, mais considerados pelo Tau-Tau e menos bem vistos por alguns kambuistas e de alguma polícia que por lá fazia uns biscates à procura de terroristas. O meu Huambo também sabia ripostar à segregação.
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