Ando eu aqui a surfar nas ondas das lembranças do meu cérebro e fico sempre com a nostalgia de ter esquecido se a paixão que o meu Huambo me provocou e que ainda me faz escorrer um pouco da água salgada dos meus olhos quando vejo o filme das brincadeiras do meu bairro, algum dia foi amor. Passam diante destes olhos onde escorre a água salgada da Restinga os carrinhos feitos de arame e de latas e caricas construidos por mãos de quem sabia muito mais do que nós mas que não frequentava a escola onde nos ensinavam umas tretas-tipo "do Minho a Timor". E fico sem ar para continuar a ler Ondjaki, Quantas Madrugadas tem a Noite, porque o Adolfo Dido do livro me diz que "tristezas, avilo, isso e muito mais... o passado, minhas lembranças mesmo, minhas solidões. a vida, muadiê, a vida é um antigamente só, e nós ficamos lá, cada vez mais pra frente vamos, e empurrados mas, quem, nós mesmo?, nós somos nosso próprio esquecimento - borracha do futuro a apagar o passado nas ardósias do presente". Também havia a lousa negra onde escrevíamos as redações que queríamos que escrevêssemos mas que apagávamos logo a seguir com o cuspo da raiva. E ama-se aquilo com que se cruza e é só talvez assim. Mas eu não me cruzei, nasci e vivi naquele caminho e abracei num tempo breve de pestanejar aquela terra que me abrasou.
Gosto de te dizer abrasas-me e partilhar contigo a troca do "c" pelo "s" que me permite ter uma intensidade de sentimentos e um gesto que também ele é intenso. E como eu te gostava de abraçar e ser abraçado por ti meu bairro, meu Huambo, e sentir a força do teu abraço numa entrega sem pudor a um aperto que me enchesse a alma. E a nossa intimidade aumenta quando as minhas recordações se aconchegam ao sabor das tuas cumplicidades reforçando a saudade que me destrói, o afastamento. E como não ando demasiado distraído ainda me apetece cantar "abrasa-me, abrasa-me muito, como se fosse esta noite a última vez..."
"Há sempre alguém que nos diz, tem cuidado, há sempre alguém que nos faz falta, ai que saudades..."
sábado, 8 de janeiro de 2011
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
MALANGATANA
domingo, 2 de janeiro de 2011
SÔDAD
Começamos a segunda década do século vinte e um e hoje acordei com saudades do meu Huambo que há trinta e cinco anos não me vê. Tenho saudades da minha casa, das bungavilias, do comboio, dos do meu bairro, do...
...do meu Kurikutelas campeão de futebol de 1974, campeão da liberdade. Das tardes de domingo em que o Ferrovia jogava à bola como só eles sabiam. Comecei a aprender coisas de sonho e de verdade, no meu bairro, no Ferrovia. O poema diz "Havemos de voltar". Será verdade?
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