sábado, 31 de outubro de 2009

REGULADORA

Depois de um interregno para um fim de semana no Hotel Babilónia voltemos ao meu Bairro onde se deram e dão muitos fenómenos bons e que nos levam ao sonho.
No meu bairro todos os dias o sol se espreguiçava por trás de umas mangueiras que existiam nos quintais das casas. Sempre quentinho, nas manhãs frias do Huambo ninguém conseguia que fossemos ligeiros no despertar e no ir fazer tudo aquilo que fomos aprendendo na lição da vida. Água fria nos olhos, rápido, tipo higiene de gato, vestir tudo de uma vez só numa técnica que fomos aprendendo e pequeno almoço, sempre bom e aromático. Depois bora lá para o maximbombo a caminho do liceu.
Bem, isto era aquilo que devia ser o normal de um acordar semanal e em tempo de aulas. Só que para ajudar na festa da rabujice matinal resolveram, os mais velhos, ir ao Armazém do CFB e comprar uns despertadores que faziam mais barulho que os corvos e outras aves de rapina que ao fim da tarde tentavam apanhar os pintos distraídos nos quintais a aprender a serem aves. Cinzentos, tinham um tic-tac que punha qualquer ser vivo à beira de um ataque de nervos e que, pelas seis horas da manhã, tinham um estridor que nem mil moribundos em telhado de zinco a tentar sobreviver. Pior que isto eram alguns vizinhos que para aumentarem o desespero faziam com que os Reguladora gritassem numa panela de alumínio que se ouvia pelo bairro todo. Um desespero. Claro que soubemos perdoar a todos estes despertadores e mais tarde até fizemos inveja ao comprá-los de outras cores e outras formas. Ainda hoje, na mesinha de cabeceira, muitos de nós terá um Reguladora mas com formas mais desportivas e menos ruidosos.

sábado, 24 de outubro de 2009

TCHEKA

Sempre que permaneço num hotel, seja cá dentro ou lá fora, confesso que nunca mais lhe recordo o nome nem a cadeia a que pertence. Mas há um que, apesar de estar e permanecer nele só por duas horas e aos sábados, me dá um grande prazer, um forte sentimento de bem estar. Não só pela qualidade do serviço que proporciona, pela forma como são atendidos os clientes mas também pela ternura que desperta e a alegria proporcionada a quem o frequenta. Além do mais o profissionalismo dos seus funcionários está acima da média e o bom gosto dos programas é uma marca de qualidade que não é possível transcrever para as estrelas que estão nas portas da entrada ou nos panfletos publicitários. Dir-me-ão que tem um recepcionista monárquico, que se zangou com Abel, irmão de Caim, e de quem o defendeu na Terra, mas que consegue estar em sintonia com um outro recepcionista mais aberto na relação recepcionista/cliente. Sempre com um sorriso, um forte amor pela vida, atento a todas as diferenças culturais dos clientes, foi o Pedro, assim se chama este homem atento, que um dia me proporcionou descobrir o dono da bela voz crioula das ilhas de Cabo Verde e que de mansinho entrava em todos os cantos do hotel e do meu quarto que tem um nome japonês, Mazda. O jovem cantor, embrenhado num doce canto crioulo de Santiago chama-se Tcheka e é só o vencedor do Musiques du Monde 2005 com o seu último disco "Nu Monda". Já agora o Hotel dá pelo nome de Hotel Babilónia, abre às 10 h de Sábado na Antena 1 e fecha ao meio-dia e os recepcionistas foram batizados (foram?) com os nomes de João Gobert e Pedro Rolo Duarte.
Partilho convosco o Tcheka ao vivo no Mindelo e que se encontra disponível no YouTube e aconselho-vos a frequentar o Hotel Babilónia.