domingo, 26 de dezembro de 2010

GASOLINO

Nesta época chamada de Natal confesso que lá no bairro nem nos lembrávamos que existia a festa. Talvez por estar proibida a coca-cola na capital do império, o pai natal no nosso Huambo era como nós queríamos, ou quase. Não havia o homem das barbas brancas vestido de vermelho a dizer hô...hô...hô, porque o calor era mais que muito, não havia renas, nem chaminés para o kota entrar. Então como faziamos para ter as recordações de um período que era universal, ou quase. O CFB resolvia o problema com uma festa de todos em que oferecia brinquedos aos filhos dos funcionários. Juntávamo-nos no Ferrovia e alguém distribuia presentes aos kandengues. Um dos que sempre me ficou na memória foi um barco de latão com corda, a que chamava gasolino, era masculino, e que deslizava pela banheira do meu encantamento. Então logo sonhava em ser marinheiro de ilusões, solidário dos mares e feitor de viagens em que aportava outros portos e outros mundos.
Esse ainda há pouco tempo fazia parte dos brinquedos que não estraguei. E era assim que fazíamos para "fingir" que havia Natal na nossa cidade. O meu Huambo tinha muito mais interesse que o Natal que era do asfalto e não o Natal de todos. Nunca mais chegava o tempo de irmos para o liceu!

domingo, 12 de dezembro de 2010

RUACANÁ

Talvez porque hoje é domingo e domingo à tarde as recordações na minha cabeça viraram-se para o cinema. Desde puto, muito cedo, eu e a malta lá do bairro juntávamos os tostões que nos davam e aos domingos corríamos a ver o cinema, matinés diziam eles, do outro lado do bairro, no Ruacaná. Atravessar a linha e em bandos de siripipis aí íamos nós. Foi lá que descobrimos que para além dos bons e dos maus ainda havia os vilões, nos apaixonamos por Catherine Deneuve, Liv Hulmann e até, quem diria, Annie Girardot. Sim porque ela nos disse que nós não bebíamos, não fumávamos (nhéu!!!), mas... talvez o primeiro beijo tivesse acontecido no Ruacaná. Por pouco me esquecia da Sophia Loren e da Romy Scheneider.
Sim mas também íamos aos filmes onde entrasse o Charles Bronson, o Jean Paul Belmondo, o Anthony Quinn, o Peter O'Toole, Marcello Mastroanni, Omar Schariff e tantos outros. Mas o que nos dava mesmo gozo eram os filmes do Cantinflas, Mário Moreno, e do Zorro. Até mesmo depois dos filmes tentávamos imitar so nosso heróis e nas brincadeiras de espada e capa muitas cabeças se abriram para além das flechadas que levávamos dos índios pois os nossos revólveres nem fulminantes tinham. Mas, dizer só, que não queríamos nada, quando as mamãs resolviam ir connosco às matinés, ver os filmes do Joselito e da Marisol. Já não éramos assim tão candengues para ver as lamechices dos madieu que eram mesmo para esquecer.
Como eram fixes as tardes de Domingo só ultrapassadas pelo futebol nos kurikutelas ou no mambroa e, quando mais velhos, pelas noites de cinema no Ferrovia. Sukuama, sangue de pacaça, te juro, eram mesmo bué estas tardes e o amor pelo cinema ficou e com saudades de voltar ao Ruacaná.