domingo, 8 de novembro de 2009

CAIXA DE MÚSICA



Era sem dúvida um dos objectos, colocado na cómoda do quarto de meus pais, que mais me fascinou enquanto miúdo. De cor preta, tipo ébano, bem envernizada, sem um pingo de pó, forrada a um pano vermelho, tinha uma bailarina vestida de branco que me encantava na sua dança repetitiva em frente de um espelho que projectava as ilusões de um conto de fadas. Penso que em muitas casas lá da minha rua havia muitas dessas caixas e muitos de nós sonhou com a bailarina das nossas vidas. Sei, também, que nenhum de nós deu em bailarino pois ter essa profissão não era coisa de macho. Mas para além dos sonhos que a bailarina me transmitia, a música era de uma tranquilidade que ainda hoje recordo. Apanhando toda a gente distraída, lá ia eu ao quarto de meus pais ouvir a música, ver dançar e sonhar com um mundo de encantar. Mas para além deste mundo de fadas havia uma realidade bem mais terrena na caixa de música. Eram as moedas de vinte e cinco tostões que a mãe por vezes lá colocava, tipo mesada, ou por lá se esquecia, digo eu. Quando havia lá a moeda para além dos prazeres da caixa musical, nesse dia no Liceu tinha merenda reforçada. Uma Coca Cola e um pastel de nata, um manjar dos deuses. Assim foi durante anos.

Hoje nas minhas viagens, com outras músicas, outros bailados, verifico que há um programa na Antena 1 que me faz sentir outra vez candengue e regressar ao passado do meu Huambo. Chama-se Caixa de Música e por acaso do destino quem o apresenta, quem é responsável pelo programa, chama-se, só, Augusto Fernandes. Maldito (!), ou será bendito (?), destino.